He Yôkoso 「へ ようこそ」: Seja Bem-vindo!

Aqui iremos mostrar um pouco dessa cultura maravilhosa que encheu os olhos do resto do mundo com sua beleza , arte e sabedoria.

Viva Vida Oriental!

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Kokeshi

Kokeshi são bonecas japonesas, originárias do norte do país. Elas são feitas em madeira, possuíndo um tronco simples e uma grande cabeça, pintadas com finas linhas para delinear o rosto. Seu corpo tem desenhos florais, pintados sobre fundo vermelho, preto, e algumas vezes amarelo, envernizadas por uma camada de cera. 
Uma marcante característica das Kokeshi é a ausência de braços e pernas. Na parte inferior é marcada com a assinatura do artista.




 As Kokeshi foram produzidas inicialmente pelos Kiji-shi (artesãos da madeira), em Shinchi, em Tagata (Miyagi), de onde a técnica se espalhou para outras áreas das estâncias termais da região de Tohoku. Diz-se que estas bonecas foram feitas originalmente em meados do período Edo (entre 1600-1868) para serem vendidas como souvenires aos visitantes das fontes termais do nordeste do Japão.

Formatos

  • Tradicional - As formas tradicionais da Kokeshi (Dento), seguem certos padrões particulares e são oriundas de uma determinada área. Compreendem onze tipos: Tsuchiyu, Togatta, Yajiro, Naruko, Sakunami, Yamagata, Kijiyama, Nanbu, Tsugaru, Zao-takayu, e Hijioro. O tipo mais comum é o Naruko, variante feita originalmente em Miyagi, podendo também ser encontrada em Akita, Iwate e em Yamagata. A rua principal da fonte termal de Naruko é conhecida como Rua da Kokeshi, e possui lojas que são dirigidas diretamente pelos escultores de Kokeshi.
  • Criativas - As formas criativas da Kokeshi (Shingata) o artista permite-se total liberdade para dar-lhe formas, desenho e cores, e passou a ser desenvolvida após a II Guerra Mundial. Elas não estão restritas a uma determinada região do Japão, e os artistas das Kokeshi Criativas moram nas grandes cidades.


 

Matéria-prima


A madeira usada para a confecção das Kokeshi varia. Para um tom mais escuro, é usada a cerejeira e as Cornus para tons suaves. O Itaya-kaede, espécie de bordo japonês, também é usado. Tanto para a escultura das formas tradicionais como criativas, a madeira é colocada ao ar livre para descansar durante um a cinco anos, antes de poder ser usada.

Histórias das Kokeshi


Há poucos registros sobre a origem e história antiga das bonecas japonesas kokeshi. Acredita-se que elas têm suas origem na prática religiosa, porém poucas informações sobre sua história podem ser consideradas verdadeiras, pois a imaginação dos antigos japoneses criou diversas lendas (algumas até assustadoras) para a história das kokeshi.

Existem versões relatando que a kokeshi seria a representação de uma lenda aterrorizante, de um período de intensa escassez de alimentos em que crianças teriam sido sacrificadas para a sobrevivência dos habitantes da região de Tohoku (norte do Japão). Por isso, a kokeshi não teria braços e pernas.

Já em Okinawa (ilha do extremo sul do Japão), a kokeshi foi adotada como parte das cerimônias fúnebres de crianças que não atingiam 1 ano de idade. Era comum acreditarem que a alma do bebê morto fixava-se na boneca e os familiares então ofereciam doces, alimentos e origamis à kokeshi, para que a alma não se sentisse perdida após a morte.

Antes das kokeshi, no Japão só existiam as bonecas de porcelana, muito caras e acessíveis somente às crianças de ricas famílias. A kokeshi então se tornou a opção para todas as outras crianças e consagrou-se como uma arte popular japonesa. Os antigos agricultores japoneses também acreditavam que dar as bonecas kokeshi às crianças favoreceria boas colheitas: caso as crianças gostassem e brincassem com as bonecas, os Deuses ficariam com uma impressão positiva sobre a união e espírito familiar.



 

domingo, 7 de outubro de 2012

Karatê

Karatê é uma arte marcial japonesa (Budō) que se desenvolveu a partir da arte marcial de Okinawa sob influência do chuan fa chinês e dos koryu japoneses (modalidades tradicionais de luta).
A influência do chuan fa foi maior num primeiro estágio e se fez sentir nas técnicas dos estilos mais fluidos e pragmáticos da China meridional. A influência das disciplinas de combate familiares do Japão, ou koryu, é notada no desenvolvimento de movimentos diretos e simples, abandonando aquilo que não seria útil.
Seu repertório técnico abrange principalmente golpes contundentes — atemi waza —, como pontapés, socos, joelhadas, bofetadas etc., executadas com as mãos desarmadas. Todavia, técnicas de projeção, imobilização e bloqueios — nage waza, katame waza, uke waza — também são ensinados, com maior ou menor ênfase dependendo do onde ou qual estilo/escola se aprende.
O estádio da modalidade na transição entre os séculos XX e XXI tem dado ênfase à evolução do condicionamento físico, desenvolvendo velocidade, flexibilidade e capacidade aeróbia para participação de competições de esporte de combate, ficando relegada àquelas poucas escolas tradicionalistas a prática de exercícios rigorosos, que visam desenvolver a resistência dos membros, e de provas de quebramento de tábuas de madeira, tijolos ou gelo. De um modo simples, há duas correntes maiores, uma tendente a preservar os caracteres marcial e filosófico do karatê e outra, que pretende firmar os aspectos esportivo e lúdico.
A evolução da arte marcial aconteceu capitaneada por grandes mestres, que a conduziram e assentaram suas bases, resultando no karatê moderno, cujo trinômio básico de aprendizado repousa em kihon (técnicas básicas), kata (sequência de técnicas, simulando luta com várias aplicações práticas) e kumite (luta propriamente dita, que pode ser simulada, esportiva ou real).

A despeito da enorme fragmentação, as várias escolas procuram seguir num molde pedagógico, pelo que o estudioso dedicado da arte marcial chama-se carateca, isto é, aquele que busca desenvolver disciplina, filosofia e ética, além de aprender simples movimentos e condicionamento físico, diferenciando-se assim do mero praticante. Nessa mesma linha, aquele carateca que alcança o grau de faixa/cinturão preto(a) é chamado de sensei.

História


O arquipélago de Okinawa localiza-se quase que exatamente a meio caminho entre Japão e China, no Mar da China Oriental. Por causa de sua posição geográfica, a região sempre despertou a cobiça dos dois países, os quais não pouparam esforços para estenderem suas influências (culturais e econômicas), tornando a existência de um governo local submetida à conjugação de interesses e política externos. 
A influência chinesa era considerável, e alguns praticantes de artes marciais daquele país chegaram a Okinawa.
Apesar da circunstância de gravitar em torno da influência sino-japonesa, sucedeu na história de Oquinaua, entre 1322 e 1429, um período denominado de Sanzan-jidai (三山時代, período dos três montes) quando que se debateram os três reinos de Hokuzan (北山, Monte Setentrional), Chuzan (中山, Monte Central) e Nanzan (南山, Monte Meridional) pelo controle da região. Tal período acabou com a unificação sob a bandeira do reino de Ryukyu e sob o comando de Chuzan, que era o mais forte economicamente, inaugurando a primeira dinastia Sho: Sho Hashi. Nessa época, influência chinesa consolidou-se como a preponderante das duas e isso se refletiu na estrutura administrativa do reino e noutros aspectos culturais.
Após a unificação e no fito de conter eventuais sentimentos de revolta, el-Rei Sho Hashi promulgou um édito que tornou proibido o porte de quaisquer armas por parte da população civil. Este fato é considerado o marco principal do processo evolutivo que veio a culminar no karatê, posto que já existisse em Okinawa uma arte marcial própria, a medida régia impôs um ritmo diferente, devido à necessidade de as pessoas terem uma forma de defesa e em razão da proibição real, aquelas técnicas foram-se aperfeiçoando, principalmente nas camadas mais pobres da população, que sobreviviam de atividades agrícolas e de pesca, haja vista que as classes de nobres (guerreiros), tal e qual sucedia entre China e Japão, tinham suas próprias disciplinas de combate.
Fruto também da proibição do porte de armas foi o desenvolvimento do kobudo, outra arte marcial okinauense que transformou o uso de objectos do cotidiano em armas, como a tonfa e o nunchaku, que eram originalmente instrumentos de trabalho, para manuseio de moinho e debulhagem de arroz.
A sociedade japonesa, possuindo uma classe guerreira, era há muito conhecedora de disciplinas de combates com e sem armas. No seio das famílias e/ou clãs fomentaram-se formas de combate, os chamados koryu, que eram transmitidos somente internamente. Entretanto, o que importa é que houve certa troca de conhecimentos, posto que muito velada, e que essas artes evoluíram para atender exatamente às necessidades do grupos que as usavam.
O que viria a ser o jiu-jitsu surgiu para capacitar o samurai para a luta desarmada mas usando armadura, pelo que não era racional utilizar ostensivamente de pontapés e socos mas mais projeções e estrangulamentos. Por seu turno, o que se desenvolveu em Ryukyu visava justamente o combate desarmado, sem trajo específico, mas eventualmente enfrentando guerreiros com armadura, pelo que socos e pontapés eram mais interessantes, isso aliado ao condicionamento de mãos e pés para serem instrumentos de ataques fulminantes.
A independência do reino de Ryukyu sofreu duro golpe quando, em 1609, o clã samurai de Satsuma, com aprovação do imperador do Japão, subjugou o arquipélago. Por ocasião da invasão, os samurais encontraram pouco ou nenhum revide, porque, dadas as circunstâncias, el-Rei declarou que a vida é o mais importante tesouro e recomendou que a população das ilhas não revidasse à agressão estrangeira. Okinawa passou a ser um estado tributário de Japão e China, mas, contrário ao cenário anterior, com predomínio nipônico, que expôs a cultura local e influenciou sobremaneira o desenvolvimento das artes marciais, sob os valores da classe guerreira. Naquele momento, o clã Satsuma introduziu sua própria disciplina, o jigen-ryu.


Arte das mãos okinauenses

 

Existia já uma espécie de luta desarmada e nativa de Okinawa, que era praticada abertamente, chamada de mutô, em cuja o embate começava com empurrões muito parecidos com os de sumô, depois, seguindo-se com apliacação de golpes de arremesso e torção.Vencia aquele que derrubasse ou submetesse o adversário.Era uma prática cujo fito mor era recreativo, mas que, segundo alguns autores e mestres, teria sido a semente do karatê, que foi então, sendo moldado e modificado sob a influências do boxe sino-meridional.
Em meados do século XVII, uma arte marcial okinauense sem armas já era estabelecida, sendo conhecida por «tê» ( ou ティー, em japonês: te, em okinauense: ti). Também é referida como mão de Okinawa (沖縄手, em japonês: Okinawa-te, em okinauense: Uchinaadi), quando surge a figura de Matsu Higa, renomado mestre de te e kobudo e também experte em chuan fa, que teria aprendido com mestres chineses. Já nesse tempo, a arte marcial já vinha evoluindo em três formas distintas, radicadas nas três cidades que as nomearam, Naha-te, Tomari-te e Shuri-te.
Acredita-se que Sensei Higa tenha sido, dentro de seu estilo próprio, o primeiro a estabelecer um conjunto formal de técnicas e chamá-lo de te.
Destacaram-se mais os estilos de Shuri, por ser a capital, e de Naha, por ser cidade portuária e mais importante entreposto comercial. 
Na linhagem do estilo shuri-te, caracterizado pelas posturas corporais naturais e por movimentos lineares de deslocamento e de golpes, seguiram-se a Sensei Higa, mais ou menos numa linha de instrutor e aprendiz, os mestres Peichin Takahara, Kanga Sakukawa e Sokon Matsumura.
Com mestre Takahara, já por influência japonesa, o te vem a receber os três princípios que culminariam com a transformação da técnica numa disciplina muito maior já na transição do século XIX para o século XX.
Ainda no século XVII, o te sofria fortes influências desde a China. Mestre Sakukawa, por sugestão de Peichin Takahara, foi aprender com o chinês Kushanku — mestre de chuan fa — e, depois, diretamente no continente. Tais características não passaram despercebidas e calharam em que a arte marcial passou a se chamar Tode ou Todi (唐手 ou トゥデ, mão chinesa), ou ainda Toshukuken (徒手空拳) e Toshu-jitsu (徒手術).
Enquanto isso, em Tomari, seu estilo adquiria uma característica mais acrobática.Os principais expoentes da região foram os mestres Karyu Uku e Kishin Teryua, que deixariam por legado a Kosaku Matsumora e, em Naha, o te evoluia numa direção diversa, com movimento de extrema contração, golpes de curto alcance e condicionamento do corpo para absorção de golpes, tudo conjugado a técnicas de respiração: ibuki.
Sob o ministério de Sokon Matsumura, o tode passou a ter um treinamento mais formalizado com a compilação de uma série mais ou menos fechada de katas e, principalmente, rompeu-se a barreira das classes sociais. Com Matsumura, que fazia parte da elite guerreira e da corte de el-Rei Sho Ko e sucessores, o tode, praticado pelas classes trabalhadoras, passou a ser uma arte militar reconhecida.
Por essa época, ficaram famosos, e quase lendários, os contos sobre as proezas dos artistas marciais de Okinawa, como a do mestre de Tomari-te, Kosaku Matsumora, que desarmado derrotou um samurai. Assim, o te era conhecido também por shimpi tode (神秘 唐手, misteriosa mão chinesa) ou reimyo tode (霊妙 唐手, etérea/miraculosa mão chinesa).

Arte das mãos vazias

 

No fim do século XIX, o karatê ainda era marcado de modo forte por quem o ensinava, não havia, posto que houvesse similitudes entre as técnicas, um padrão, o que dificultava sua maior aceitação fora de círculos restritos, porque era praticado e ensinado num rígido esquema de mestre/aluno.
Nesse meio tempo, sobreveio a final anexação de Ryukyu, em 1875, tornando-se a província de Okinawa. Todavia, o que poderia ser o fim tornou-se uma oportunidade, pois terminou com o isolamento da população do arquipélago, incorporados de vez à população nipônica. E coube a Anko Itosu, um discípulo de Matsumura e secretário do rei de Okinawa, usar de sua influência para tentar disseminar a arte marcial.
O mestre via o te não somente como arte marcial mas, principalmente, como uma forma de desenvolver caráter, disciplina e físico das crianças. Ainda assim, o mestre julgava que os métodos utilizados até a época não eram práticos: o te era ensinado basicamente por intermédio do treino repetitivo dos kata. Então, Itosu simplificou o treino a unidades fundamentais, os kihons, que são as técnicas compreendidas em si mesmas, um soco, uma esquiva, uma base, e, além, compilou a série de katas Pinan com técnicas mais simples e que passariam a formar o currículo introdutório. A mudança resultou na diminuição, supressão em alguns casos, de táticas de luta, mas reforçou o caráter esportivo, para benefício da saúde: deu-se relevo a postura, mobilidade, flexibilidade, tensão, respiração e relaxamento.
Atribui-se ao mestre Itosu a mudança de denominação para karate (空手, mãos vazias), como forma de vencer as barreiras culturais, as resistências para aceitação, pois como algo com origem chinesa não era visto com bons olhos, ademais porque havia tensões latentes entres os dois países.
Em 1900, aconteceu uma grande emigração desde Okinawa até o Havaí, resultando na primeira mostra do karatê a ocidentais.
O karatê tornou-se esporte oficial em 1902. Evento dramático no desenvolvimento do caratê que é o ponto em que se aperfeiçoa a transição de arte marcial para disciplina física, deixando ser visto apenas como meio de autodefesa.
Como resultado de seu progresso, Anko Itosu crê ser possível exportar o karatê para o resto do Japão e, em começos do século XX, passa a empreender esforços para tanto, mas não consegue sucesso.
Paralelos a esses eventos, outro influente mestre, Kanryo Higashionna, promovia por si outras mudanças. Ele desenvolvia um estilo peculiar que mesclava técnicas suaves, evasivas e defensivas (como esquivas e projeções), e menos as rígidas, e tinha como discípulos Chojun Miyagi e Kenwa Mabuni. A exemplo de Itosu, Higashionna conseguiu fomentar os valores neles que levaram até as mudanças futuras que tornariam o karatê mais aceitável.
Alguns fatores contribuíram, entretanto, para a divulgação do karatê. Um desses fatores era a mentalidade corrente à época que, mesmo com o processo de disseminação dos costumes ocidentais iniciado com a Restauração Meiji, ainda era muito apegada à figura do guerreiro, não sendo incomum o lance de desafios a lutadores proeminentes ou mesmo a uma casa, família ou paragem. Era comum a prática do dojo yaburi (desafio ao dojô).

Marcante e decisivo, foi um desafio que mestre Choki Motobu protagonizou. Chegou ao Japão um navio russo, conduzindo um lutador de sambo (Jon Kirter), com porte físico avantajado (quase 2m de altura) e capaz de cravar um prego na madeira com as mãos. O fito daquele lutador era divulgar sua modalidade de luta e, para tanto, além das demonstrações públicas, que envolviam proezas, como enrolar uma barra de ferro nos braços e quebramentos, foi lançado um desafio a todo o país.
A notícia correu até Okinawa, sendo o desafio aceito pelos irmão Motobu, descendentes da casa real e notórios expertes em artes marciais, além do karatê, kobudo e gotende. Dirigiram-se eles até o Japão. 
No dia da luta, tudo certo o embate foi decidido com apenas um golpe na região do plexo solar. 
A vitória foi considerada tão surpreendente que criou alvoroço e despertou de vez o interesse pelo karatê.
  

Ética e filosofia

 

 

O treinamento tradicional de karatê deve começar e terminar com um breve momento de meditação, mokuso, cuja finalidade é preparar o carateca para os ensinamentos que receberá e, depois, refletir sobre os mesmos. A cada momento ou exercício faz-se saudação no começo e no fim, sendo costume difundido em vários dojôs fazer uma reverência ao entrar e sair do sítio.
Esse carácter mais abrangente do caratê é bem visível pela partícula "dō" () de seu nome. Tais princípios, posto que a grande mudança filosófica ocorrida nas artes marciais japonesas possa ser localizada na transição do século XIX para o XX, possuem suas raízes fincadas bem mais no passado.
Historicamente, foi o monge Peichin Takahara quem primeiro a descreve a filosofia do "dō", do caminho de evolução que são as artes marciais, em sintonia com os ensinamentos do karatê. Ainda no século XVII, ele descreveu as três vertentes que, combinadas, culminam na evolução da pessoa: ijo, fo e katsu.
  • Ijo () pode ser expresso em atitudes pró-ativas em favor de terceiro. Também se diz que a forma ijo respousa na compaixão, humildade e no recato.
  • Fo (, princípio) é o compromisso, isto é, a dedicação que alguém tem para com algo; no caso, o afinco com que um carateca treina os conhecimentos ensinados, a seriedade e devoção que nutre, além, para com seu mestre e colegas.
  • Katsu (奉, observância) reflete-se no conhecimento, na compreensão que a arte marcial possui, mas compreendida nos mínimos detalhes e em que momentos, da vida ou de um enfrentamento real, farão sentido.
O conceito do caminho evolutivo que é a prática do karatê pode ser achado em todas as artes marciais japonesas, tratando-se uma leitura japonesa do tao. Como caminho, por conseguinte, deve ser interpretado de forma bem abrangente, para a compreensão de um ciclo de vida. De outra forma, uma vez que o ciclo da vida é já um caminho pré-determinado, um sistema no qual todas as formas e seres estão inter-relacionados, deve haver a consciência de que existe uma relação de interdependência de todas as coisas e situações: o aprendizado não seria mérito pessoal mas o resultado da relação voluntária do praticante com o ambiente e com todos os seres.

O karatê se insere como uma das disciplinas do Bushido, o código de ética do guerreiro. Assim, o karatê é muito mais do que uma forma de luta (o "dō" rejeita esta visão limitada), é um modo de vida. Os mestres prolataram um conceito, o que de nesta arte marcial, além de não existir atitude agressiva, em caso de embate, nunca o carateca faria o primeiro movimento:

空手に先手無し
Karate ni sente nashi
No karatê não há primeiro movimento (ataque)

Sob duas ópticas capitais e pragmáticas, ressai o escopo pacífico da modalidade. Primeiro, caso se enfrentem dois caratecas, nenhum deles tomará atitude ofensiva, pelo que o combate nunca existirá. Depois, caso o enfrentamento se desse contra alguém que não é um carateca, com a atitude pacífica ou desestimularia o ataque ou, se esse existir, poder-se-ia usar da energia despendida pelo contendor para resolver a demanda. Trata-se destarte de uma abordagem complementar à do shinbu.

 

Dojo kun

Tendo em foco o Bushido, o mestre Kanga Sakukawa elaborou um código, o Dojo kun, para servir de norte à prática do karatê. Tal código é composto por cinco regras:

  1. Esforçar-se para a formação do caráter.
  2. Fidelidade para com o verdadeiro caminho da razão.
  3. Criar o intuito do esforço.
  4. Respeito acima de tudo.
  5. Conter o espírito de agressão.

 

Tode jukun

Sensei Anko Itosu, quando se dirigiu aos administradores japoneses, no fito de divulgar o karatê por todo o Japão, referiu-se à sua arte marcial em forma de princípios que poderiam ser facilmente compreendidos. Assim, tal conjunto de princípios ficou conhecido como Tode jukun, ou os Dez Princípios do Tode.

  1. O caratê não é praticado apenas para o benefício individual, pode ser usado para proteger sua família e seu mestre...
  2. O propósito do karatê é tornar os músculos e ossos duros como rochas e usar as mãos e pernas como lanças…
  3. O karatê não pode ser aprendido rapidamente…
  4. Em karatê, treinamento das mãos e dos pés é importante...
  5. Quando praticar as bases do karatê certifique-se de manter as costas eretas...
  6. Pratique cada uma das técnicas do karatê repetidamente...
  7. Vós deveis decidir se o caratê é para saúde ou para auxiliar nos deveres.
  8. Quando treinar, faça como se estivesse no campo de batalha...
  9. Se se usar excessivamente sua força no treinamento de karatê isso irá causar a perda de energia..
  10. [...] O karatê auxilia no desenvolvimento de ossos e músculos. Ajuda tanto na digestão quanto na circulação…

 

Niju kun

Imbuído pelo conceito do "dô" e a exemplo do que fizeram os mestres do passado, em particular, seu instrutor directo, mestre Sakukawa, Gichin Funakoshi elaborou um código ético, Niju kun, o qual seria difundido em sua escola, mas se acabou por espraiar-se por outros dojôs. O nome significa literalmente as vinte regras:

  1. ...o karatê deve iniciar com saudação e terminar com saudação.
  2. No karatê não existe atitude ofensiva.
  3. O karatê é um apoio da justiça.
  4. Conheça a si próprio antes de julgar os outros.
  5. O espírito é mais importante do que a técnica.
  6. Evitar o descontrole do equilíbrio mental.
  7. Os infortúnios são causados pela negligência.
  8. O karatê não se limita apenas à academia.
  9. O aprendizado do karatê deve ser perseguido durante toda a vida.
  10. O karatê dará frutos quando associado à vida cotidiana.
  11. O karatê é como água quente. Se não receber calor constantemente, esfria.
  12. Não pense em vencer, pense em não ser vencido.
  13. Mude de atitude conforme o adversário.
  14. A luta depende de como se usam os pontos fracos e fortes.
  15. Imagine que os membros de seus adversários são como espadas.
  16. Para cada homem que sai do seu portão, existem milhões de adversários.
  17. No início, os movimentos são artificiais, mas com a evolução tornam-se naturais.
  18. O treino das técnicas deve ser de acordo com o movimento correto (forma original), pero na aplicação torna-se diferente (livre).
  19. Não se esqueça de aplicar corretamente...
  20. Estudar, praticar e aperfeiçoar-se sempre.



 

Estilos


A despeito do que preconizavam os grandes mestres, hodiernamente, há na seara do karatê um grande número de divisões, sendo as mais conhecidas os estilos, e reconhecidos pela Federação Mundial de Karatê, Shito-ryu, Shotokan, Goju-ryu e Wado-ryu. Todos eles criados na primeira metade do século XX. Reconhecidos pela WUKF, há os estilos Shorin-ryu, Uechi-ryu, Kyokushin e Budokan, além dos reconhecidos pela WKF.
Há, contudo, muitos outros estilos, como maior ou menor renome, como Shindo jinen ryu, Seiwakai, Shudokan, Toon-ryu, Chito-ryu, Kenyu-ryu, Isshin-ryu, Kentouryukai etc. 
Há ainda alguns estilos que nada mais são do que visões mais tradicionalistas ou ortodoxas de um estilo, como é o caso do Shotokai, que propala estar verdadeiramente conectado à escola criada pelo mestre Funakoshi; aqueles que são uma visão particular e/ou moderna, como o Gosoku-ryu, que é uma recopilação baseada no Shotokan; ou estilos que são compilações de outros estilos.

 

Subdivisões

 

Em termos de artes marciais, há que se notar que a palavra «escola» não tem o mesmo sentido empregado no uso comum. O karatê é uma arte marcial que se subdivide em diversos estilos, o Shorin-ryu sendo um dos mais antigos entre eles. Cada estilo, identificados geralmente pela partícula ryu ( ryũ, fluxo), é uma forma distinta de se praticar uma determinada arte marcial. Nesse sentido, membros de estilos diferentes terão nomes diferentes para golpes semelhantes, kata e kihon próprios, diferentes progressões de faixa, ou nível, e até mesmo metodologias de ensino variadas. O que une os diferentes estilos é a consciência de que são como galhos de uma mesma árvore, no caso a arte marcial em questão.
As escolas, kan ( edifício, casa), por sua vez, são visões particulares de um determinado estilo. Muitas vezes elas se originam como tributos a mestres muito graduados e, algumas vezes, acabam se transformando em estilos propriamente ditos, como foi o caso do estilo Shotokan, que deve ser mais corretamente chamado de Shotokan-ryu (uma vez que Shotokan seria a Escola de Shoto e Shotokan-ryu seria o Estilo da Escola de Shoto). Uma "escola", nesta cércea, não é, portanto, um local de aprendizado de técnica, mas um conjunto de ideias dentro de um estilo.
Outra subdivisão pode se dar com o surgimento de uma linhagem, marcada com a adição do sufixo ha ( facção, escola, seita), que, semelhante às escolas, imprimem uma visão particular de um estilo ou de uma escola. Nessa leva, existem as linhagens, por exemplo, Hayashi-ha, Motobu-ha e Inoue-ha, do estilo Shito-ryu; Goju-kai e Seigokan, do estilo Goju-ryu; ou Shobayashi-ryu, Matsubayashi-ryu e Kobayashi-ryu, do estilo Shorin-ryu.
Nota-se, portanto, que não existe um padrão ou uma norma para definir os nomes dos estilos e suas respectivas ramificações. E divergências de entendimento são naturalmente esperadas, pelo que variações de uma mesma forma não seria algo insólito e nem as pessoas terem por desiderato trilhar caminhos distintos, porém deveria restar cônsciencia da origem comum.
Os mestres tradicionais pensavam que qualquer arte marcial deveria ser assemelhada a um flúmen, isto é, fluente e flexível. De outro modo, uma arte marcial deveria ser o resultado dum constante processo de aprimoramento individual, pelo qual o budoca adaptaria conforme os conhecimentos adquiridos e nunca seria idêntica, posto que duas pessoas praticassem a mesma, por igual período e com um só mestre, pois as pessoas não são iguais. Assim sendo, não haveria razão para existirem diversos estilos.
Os locais de aprendizado são chamados de dojôs, sendo estes, via de regra, filiados a alguma ramificação.

 

Técnicas

As bases
As defesas
Golpes de mão
Chutes

O repertório técnico do karatê está dividido, de modo básico, em dois grandes grupos go waza (剛 技 técnicas rígidas) e ju waza (柔技 técnicas suaves), que compreendem respectivamente os golpes de impacto e os de controle. Sendo que isso não tem nenhuma relação com estilo ou mesmo a denominação deste, são dois aspectos presentes em qualquer sodalício ou modo de se ensinar/aprender a modalidade.
As técnicas rígidas englobam todas aquelas golpes e movimentos em que há explosão de energia, promoção ou absorção de impacto, daí seu nome (saltos, socos, chutes e pancadas). A sua contrapartida são as técnicas suaves, ou aquelas nas quais visa-se mormente o controlo da energia da luta e da do adversário contra si mesmo e controlo dele de per se (projeções, caimentos, imobilizações e luxações).
Além da divisão conforme a natureza do movimento, pode-se dividir as técnicas do karatê em dois grandes grupos, te waza (手 技 técnicas manuais) e soku waza (足 技 técnicas podais), e um grupo menor, atama waza (頭 技 técnicas capitais). E, bem assim, em uke waza (受け 技 técnicas de defesa) e kogeki waza (攻撃 技 técnicas de ataque). Os vários grupos e subgrupos tendem a misturar-se, exibindo a noção de que uma técnica pode ter variados fitos, ou seja, um mesmo movimento ou golpe pode ser usado tanto como defesa como ataque, o que vai realmente prover uma diferenciação mais objetiva não exatamente o golpe em si mas o binômio de cenário de enfrentamento e intento. Daí que nas técnicas manuais incluem-se defesas, ataques, projeções, imobilizações. E isso também é verdade quando se focam os movimentos feitos com os pés.
Um caractere importante é o manejo do ki, da energia: o carateca deveria executar todas as técnicas parecendo um flúmen. Sob a umbrela desse conceito, o ki fluiria livremente.

 

Didática

 

Todas as escolas e estilos modernos de karatê desenvolvem seu ensino no trinômio formado por kihon, kata e kumite. Nem sempre foi assim, eis que as escolas tradicionais (ainda hoje) seguem um paradigma assentado somente nos kata, cujo fito é ser um modo completo de treinamento e era adoptado pelas outras artes marciais japonesas e mesmo por algumas modernas, como judô e quendô. Este modelo perdurou intacto, ou sem alterações sensíveis, pelo menos até o surgimento do mestre Anko Itosu.
Mestre Itosu possuía um projecto pessoal, que era de introduzir a arte marcial de Okinawa em seu sistema de ensino público. Antes dele, grosso modo, quando se dizia que o mestre tinha transmitido todo o seu conhecimento, significava que ele tinha ensinado todos os katas que sabia, aí inseridos todos os aspectos. Não se praticava a luta — kumite — porque o entendimento da época era que o karatê (como disciplina de combate) era mortal e, portanto, insuscetível de ser praticado em luta, posto que combinada. Ou, quando era praticado, as lutas eram uma parte mínima dos exercícios.
Como a modalidade é, antes de tudo, uma arte marcial, exige-se de seu adepto que pratique os exercícios com dedicação e empenho similares a estar num campo de batalha: a mente deve estar focada no exercício, de molde a absorver o movimento/conceito na sua inteireza. Essa atitude é, em verdade, esperada do carateca perante quaisquer situações do cotidiano, eis que o karatê é concebido como uma disciplina marcial ética (budo).
Essa ideia foi paulatinamente sendo cambiada. Ainda assim, as escolas tradicionais transmitem a arte marcial precipuamente com base no aprendizado do kata.
Acontece, porém, que o modelo de ensino fulcrado nos kata não se mostra eficaz quando se trata de promover o ensino do karatê a crianças, como notou mestre Anko Itosu ainda no século XIX. Foi então que ele particionou os katas nas técnicas fundamentais e criou os kihon do karatê, adoptando um modelo mais próximo ao conceito do /tao, que também resta presente nalgumas artes marciais, como o aikidô. Da mesma forma, compreendeu-se que a simulação da luta (que o kata pretende ser) deveria ser praticada, pois já coloca o carateca em situação de enfrentamento e o prepara de modo mais eficaz. Destarte foi que surgiu o trinômio em que o karatê hodierno se lastreia.

Kihon (基本) significa "fundação" ou "fonte" e, nesta lógica, quer dar sustento ao desenvolvimento do karatê de forma perene. 
Um kihon é uma técnica básica, um soco, uma defesa, uma postura, que é repetida pelo praticante diversas vezes. O escopo é tornar o movimento tão natural que, quando for executado num kata ou num kumite, não haverá dificuldades e o aprendizado fluirá.
O estudo na forma de fundamentos consegue transmitir ao aluno a forma básica, incumbindo ao professor conseguir transmitir não somente o movimento em si mas toda a filosofia e os conceitos que estão por detrás, porque de outra forma a essência do caratê inexoravelmente será olvidada, deixando de ser "dô" para ser "jitsu". Noutras palavras, técnica pela técnica, num movimento contrário ao deixado pelos mestres.
Por fim, a fixação do movimento por meio da repetição levará eventualmente à compreensão maior de seu significado conquanto a energia (ki) do golpe não será desperdiçada mas, antes de tudo, canalizada do modo mais eficiente possível. Ou seja, visa-se o equilíbrio entre prática e teoria.

Kata () significa "forma" ou "modelo". Um kata pretende ser uma luta simulada, formatada para que o carateca consiga praticar sozinho; são movimentos coreografados que visam dar desenvoltura frente a situações reais de enfrentamento, contra um ou vários adversários imaginários. A prática do kata foi introduzida desde cedo no caratê, quando a influência de mestres chineses se fez peremptória, desde quando se tratava de luta tipicamente de Okinawa (Okinawa-te). Todavia, com a crescente influência dos estilos oriundos da China, a prática fixou-se de vez.
Há muitos katas e muitas variações de um mesmo kata, dependendo do estilo/escola e até de professor para professor, refletindo diversos significados e as características desse estilo/escola. Os significados e aplicações de um kata são dadas pelo bunkai, ou aplicação. O escopo mor é preparar o praticante para a luta real: a finalidade é que o aluno aprenda profundamente os kihon e, depois, perceba a aplicação de facto das técnicas de projeção, controle, chute e/ou deslocamento etc. O kata é, portanto, o ponto que une as práticas de kihon e kumite.

Kumite (組み手 ou 组手 mãos dadas) representa uma luta, um combate. Seu nome, sendo traduzido como o encontro das mãos, pretende fazer memento ao lutador que o embate dar-se-á, pelo menos nos primeiros momentos, em condições de igualdade. Por conseguinte, deve haver respeito.
Em princípio, as lutas eram proibidas e/ou desestimuladas, porque o karatê possui técnicas perigosamente mortais. Mas, quando o kumite foi incorporado ao treinamento, viu-se que deveria haver maior controle, é que um aluno somente deveria treinar com luta depois de conhecer bastante as técnicas dos kihons e katas, que são sua base. A despeito disso, existem algumas formas de kumite, que seguem uma linha contínua de aumento de dificuldade, com mais até menos controle.
Por outro lado, a prática do kumite como parte do treinamento, além de promover a adaptação do praticante a situações de combate, tem como fito precípuo a promoção do companheirismo, do compartilhamento de informações, da ajuda mútua.
Ademais, quando o karatê passou pelas mudanças filosóficas que o transformaram em caratê-dô, impregnou-se da ideia de que o carateca que evolui sozinho praticamente não evolui, pois não se forma completamente, com respeito a outrem e à coletividade. E isso, num hipotético combate, fatalmente contribuiria de modo nefasto para um insucesso.
O mestre Choki Motobu dizia que as técnicas aprendidas tornar-se-iam «vazias» caso não fossem postas em prática.

Graduação

Os mestres de karatê não usavam nenhum padrão para identificar o nível de cada apedeuta, de modo prosaico identificavam particularmente quem estava mais ou menos avançado nos conhecimentos. Paulatinamente, passou-se, de um jeito ou de outro, a se utilizar do sistema menkyo (vigente ainda nas escolas tradicionalistas) para certificar o grau de conhecimentos de um praticante, basicamente destacando-se três níveis:
  • Shodan (初段): significando que se havia adquirido o status de principiante;
  • Chudan (中段 Chūdan): significava a obtenção de um nível médio de prática. Isso significava que o indivíduo estava seriamente comprometido com sua aprendizagem, escola e mestre; e
  • Jodan (上段 Jōdan): a graduação mais alta. Significava o ingresso no Okuden (escola, sistema e tradição secreta das artes marciais).
Se o indivíduo permanecia dez anos ou mais junto ao seu mestre, demonstrando interesse e dedicação, recebia o menkyo, a licença que permitia ensinar. Essa licença podia ter diferentes denominações como: Sensei, Shihan, Hanshi, Renshi, Kyoshi, dependendo de cada sistema em particular. A licença definitiva que podia legar e outorgar acima do menkyo, era o certificado kaiden, além de habilitado a ensinar, implicava que a pessoa havia completado integralmente o aprendizado do sistema.
Depois, sob a influência de Gichin Funakoshi, adoptou-se o sistema de faixas coloridas, que foi elaborado por Jigoro Kano para seus alunos, com o escopo de, além de deixar claro o nível do praticante, estabelecer um «caminho» a ser percorrido, o que era uma ideia muito cara à filosofia do /tao.
Inicialmente, em alguns casos (distinguir entre homens e mulheres ou níveis mais altos) os cintos de algodão cru usados não eram tingidos de modo uniforme, mas, para se diferenciarem das outras artes marciais, havia a cor do grau ladeada por tingimento das bordas em cor distinta. Esse modelou não valeu por muito tempo (alguns estilos ainda usam), passando a ser igual ao do judô. Por outro lado, posto que se almejasse estabelecer um modelo único (a ideia original), cada estilo/escola passou a estabelecer seus próprios graus e sequência de cores. Nesse mesmo espírito, alguns possuem cores diferentes para designar os graus mais elevados, por exemplo, com o cinto coral (vermelho e branco intercalados).
O sistema atual que rege a maioria das artes marciais usando Kyu ("classe") e Dan ("grau"), foi criado pelo fundador do Judô. Kano era um educador e conhecia as pessoas, sabendo que são muitos os que necessitam de estímulos imediatamente depois de haver começado a praticar artes marciais. A ansiedade desse tipo de praticante não pode ser saciada por objetivos em longo prazo.
A graduação no karatê é importante para indicar o nível de experiência dos praticantes, e é vista como sinal de respeito para os atletas menos graduados. Para demonstrar a graduação os caratecas usam uma faixa com uma cor na região da cintura. A ordem das cores das graduações variam de estilo para estilo mas como padrão, a faixa iniciante é a de cor branca.
Na classificação de faixas coloridas, Kyu significa classe, sendo que essa classificação é em ordem decrescente. Na classificação de faixas pretas, Dan significa grau, sendo a primeira faixa preta a de 1º Dan, a segunda faixa preta 2º Dan e assim por diante em ordem crescente. Em um plano simbólico, o branco representa a pureza do principiante, e o preto se refere aos conhecimentos apurados durante anos de treinamento.

 

Exame de faixa

 

Desde que foi estabelecido e aceito o sistema de faixas coloridas, a graduação do caratê assemelhou-se muito ao seriamento escolar, num paradigma no qual os alunos galgam graus ascendentes (e mais complexos) até que obtenham o de mestre. No exame, são procedidos testes com diferentes características e exigências, de acordo com o grau de conhecimentos exigidos para a faixa imediatamente anterior, ou seja, o aluno obtém a próxima faixa, se conseguir demonstrar que aprendeu a todo o conhecimento correspondente ao grau que ocupa e pretende superar; em tese, somente quando o aluno aprendeu tudo de um estágio é que está pronto para prosseguir no caminho do karatê. Habitualmente, também se exige certo período de tempo entre um exame e outro.
Não existe um consenso sobre os programas dos exames de faixa, variando de organização para organização, ou mesmo de dojôs.


Vocabulário


O karatê desenvolveu-se paralelamente às demais artes marciais japonesas, em Okinawa, onde há uma língua própria, mas o vocabulário é basicamente em japonês.
Segue uma lista:
  • Dan: nível de faixas pretas
  • Kyu: nível de faixas abaixo da preta
  • Gyaku golpe com a mão aposta à perna que está à frente
  • Oi: golpe com a mesma mão que a perna que está à frente
  • Sonoba: parado
  • Kime: união de força mental e física
  • Gedan: zona baixa
  • Gohon Kumitê: trabalho com o adversário,em cinco passos
  • Hajime: começar
  • Hikite: puxar um punho ao quadril, enquanto o outro trabalha
  • Ippon kumitê: trabalho com o adversário, em um passo
  • Jodan: zona alta
  • Yoko: lateral
  • Mawashi: semicírculo
  • Mae: frontal
  • Kamaê: colocar-se em posição
  • Kiai: união da respiração com a voz, momento em que se liberta o máximo de força e velocidade
  • Kihon: trabalho de todas as técnicas de deslocação
  • Hantai: dar meia-volta
  • Seiza: em posição para a saudação
  • Chudan: zona média
  • Yamé: parar
  • Yoi: posição de partida
  • Geri: chute
  • Zuki: soco
  • Uke: defesa
  • Shuto: golpe com a mão aberta
  • Shotei: golpe com a palma da mão
  • Hiji ou Empi: golpe com o cotovelo
  • Hiza: golpe com o joelho
  • Kakato: golpe com o calcanhar
  • Hantei: decisão por bandeirada (votação dos árbitros auxiliares) de uma luta empatada
  • Hiki-Waki: empate
  • Nokachi: vitória
  • Shiro: competidor de branco, ainda usado em competições da FPKI e da CBKI
  • Aka: competidor de vermelho
  • Ao: competidor de azul
  • Dachi: posição das pernas (Exemplo: fudo-dachi, zenkutsu-dachi, shiko-dachi, ukiashi-dachi, etc)
  • Ushiro: parte de atrás
  • Ashiro: golpe giratório
  • Tobi: golpe pulando
  • Uchi: Golpe de dentro para fora
  • Soto : Golpe de Fora para dentro
  • Shodan: primeiro (1º)
  • Nidan: segundo (2º)
  • Sandan: terceiro (3º)
  • Yondan: quarto (4º)
  • Godan: quinto (5º)
  • Nihon: duplo
  • Sanbon: triplo
  • Yonbon: quádruplo
  • Gohon: quíntuplo
  • Juji: defesa cruzada com pulso
  • Kakiwake : defesa ou golpe dupla cada um no lateral.
  • Ichi : Um
  • Ni : Dois
  • San : Três
  • Shi ou Yon : quatro
  • Go : Cinco
  • Roku : Seis
  • Shichi : Sete
  • Hachi : oito
  • Kyuu : Nove
  • Jyuu : Dez









quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Culinária Japonesa





A culinária japonesa desenvolveu-se ao longo dos séculos como um resultado de muitas mudanças políticas e sociais no Japão. A culinária eventualmente passou por um processo de evolução com o advento da Idade Média, que marcou o início da expansão do elitismo com a era do domínio Xogum. No começo da era moderna, mudanças significantes ocorreram, resultando na introdução de elementos de culturas não-japonesas, principalmente da cultura ocidental, no Japão.


Comida do dia-a-dia

O termo culinária japonesa (日本料理, nihon ryōri, ou 和食, washoku) significa a comida japonesa tradicional, semelhante àquela já existente antes do final do sakoku (política de isolamento do Japão), em 1868. Em um sentido mais amplo, pode incluir alimentos cujos ingredientes ou métodos de preparo foram posteriormente introduzidos do exterior, mas que foram desenvolvidos por japoneses de forma diferente. A cozinha japonesa é conhecida por dar importância à sazonalidade dos alimentos, qualidade dos ingredientes e apresentação. O Guia Michelin concedeu mais estrelas aos restaurantes das cidades japonesas do que para qualquer outro país do mundo (Somente Tóquio tem mais estrelas do que Paris, Hong Kong, Nova Iorque, Los Angeles e Londres juntas).
A culinária tradicional japonesa é dominada pelo arroz branco (hakumai, 白米), e poucas refeições seriam completas sem ele. Qualquer outro prato servido durante uma refeição - peixe, carne, legumes, conservas - é considerado como um acompanhamento, conhecido como okazu. É utilizado um tipo de talher diferente, denominado hashi. Originário da China, consiste em dois pequenos bastões de madeira, plástico ou metal.
As refeições tradicionais recebem seu nome de acordo com o número de acompanhamentos que vêm junto do arroz e da sopa. A refeição japonesa mais simples, por exemplo, consiste de ichijū-issai (一汁一菜; "uma sopa, um acompanhamento" ou "refeição de um prato"). Isto quer dizer que a refeição é composta de sopa, arroz e de algum acompanhamento, normalmente um legume em conserva. O pequeno-almoço ou café da manhã japonês tradicional, por exemplo, normalmente é constituído de missoshiru (sopa de pasta de soja), arroz e algum legume em conserva. A refeição mais comum, entretanto, é conhecida por ichijū-sansai (一汁三菜; "uma sopa, três acompanhamentos"), ou por sopa, arroz e três acompanhamentos, cada um empregando uma técnica de culinária diferente. Estes acompanhamentos normalmente são peixe cru (sashimi), um prato frito e um prato fermentado ou cozido no vapor, ainda que pratos fritos, empanados ou agri-doces podem substituir os pratos cozidos. O Ichijū-sansai normalmente se encerra com conservas como o umeboshi e chá verde.
Esta visão japonesa de uma refeição é refletida na organização dos livros de culinária japoneses. Os capítulos são sempre ordenados de acordo com os métodos culinários: alimentos fritos, alimentos cozidos e alimentos grelhados, por exemplo, e não de acordo com os ingredientes em particular (ex.: galinha ou carne) como são nos livros ocidentais. Também podem existir capítulos dedicados a sopas, sushi, arroz etc.
Como o Japão é uma nação insular, seu povo consome muitos frutos do mar, além de peixe e outros produtos marinhos (como algas). Mesmo não sendo conhecido como um país que come muita carne, poucos japoneses se consideram vegetarianos. Carne e galinha são comumente inseridos na culinária do cotidiano.
O macarrão, originado na China, também é uma parte essencial da culinária japonesa. Existem dois tipos tradicionais de macarrão, o sobá e udon. Feito de farinha de centeio, o soba (蕎麦) é um macarrão fino e escuro. O udon (うどん), por sua vez, é feito de trigo branco, sendo mais grosso. Ambos são normalmente servidos com um caldo de peixe aromatizado com soja, junto de vários vegetais. Uma importação mais recente da China, datando do início do século XIX, vem o ramen (ラーメン; macarrão chinês), que se tornou extremamente popular. O Ramen é servido com uma variedade de tipos de sopa, indo desde os molhos de peixe até manteiga ou porco.
Ainda que muitos japoneses tenham desistido de se alimentarem de insetos, ainda existem exceções. Em algumas regiões, gafanhotos (inago) e larvas de abelha (hachinoko) não são pratos incomuns. Lagartos também são comidos em alguns lugares.


 

 

Arrumação tradicional de uma mesa japonesa

A arrumação tradicional da mesa japonesa tem variado consideravelmente nos últimos séculos, dependendo principalmente do tipo comum de mesa de uma dada era. Antes do século XIX, pequenas mesas individuais (hakozen, 箱膳) ou bandejas planas utilizadas no chão eram arrumadas antes de cada refeição. Mesas baixas maiores (chabudai, ちゃぶ台), que acomodavam famílias inteiras, começaram a se tornar mais populares no começo do século XX, mas este estilo deu lugar ao estilo ocidental de mesas e cadeiras de jantar, no final do século XX.
A arrumação tradicional da mesa é baseada no ichijū-sansai. Tipicamente, cinco bacias e pratos são colocados antes do jantar. Na ponta, são colocadas a bacia de arroz (à esquerda) e a de sopa (à direita). Atrás destas ficam três pratos planos que seguram os três acompanhamentos, um à extrema esquerda (onde pode se servir um prato fermentado), um a extrema direita (no qual pode se servir um prato assado) e um no centro (no qual pode se servir vegetais cozidos). Vegetais cortados também costumam ser servidos e comidos no final da refeição, mas não fazem parte dos três pratos de acompanhamento.
Hashis são normalmente colocados na frente da bandeja próxima da pessoa, com suas pontas apontadas para a esquerda e normalmente apoiadas em um suporte de hashi, ou hashioki (箸置き).


Etiqueta na mesa 

É um costume dizer itadakimasu (いただきます), literalmente "Eu humildemente recebo", antes de começar a comer a refeição, e gochisōsama deshita (ごちそうさまでした), literalmente "Foi um banquete", ao anfitrião depois da refeição e aos funcionários do restaurante na hora de ir embora.

Toalha quente - Antes de comer, a maioria dos restaurantes oferecem uma toalha quente um lenço molhado em pacote (um oshibori). Ele é usado para limpar as mãos antes de comer (e não depois). Em certas situações, é considerado rude usá-lo para limpar o rosto ou outra parte do corpo que não as mãos. 

Tigelas - O arroz ou a sopa é comido pegando-se o chawan (tigela japonesa) com a mão esquerda e usando os hashis com a direita, ou vice versa se a pessoa for canhota. Tradicionalmente, os hashis são segurados com a mão direita e o chawan com a esquerda, aliás, as crianças japonesas aprendem a distinguir esquerda de direita como "a mão direita segura os hahis e a mão esquerda segura o chawan" - mas comer com a mão esquerda também é aceitável atualmente. As tigelas podem ser levadas até a boca, mas não devem tocá-la, exceto no momento de beber a sopa. 

Molho de soja (shoyu) - Normalmente, o shoyu não é colocado na maior parte dos pratos na mesa; um pratinho para shoyu é fornecido. O molho de soja, entretanto, deve ser colocado diretamente no tofu e em pratos com nabo (daikon) ralado, além de ser derramado no ovo cru quando se estiver preparando o tamago kake gohan ("ovo no arroz"). O molho de soja nunca deve ser colocado em cima do arroz ou na sopa. É considerado rude desperdiçar shoyu, então deve-se moderar no uso quando se estiver molhando os pratos.

Pauzinhos (hashi) - Os pauzinhos nunca devem ser fincados verticalmente no arroz, pois isso lembra palitos de incenso (que normalmente são colocados na posição vertical na areia) durante oferendas aos mortos. Usar os pauzinhos para lançar comida ou apontar não é recomendável. É considerado falta de educação morder os hashis.

Prato em comum - Quando for necessário pegar comida de um prato em comum, a menos que eles sejam a família ou amigos muito íntimos, deve-se inverter os hashis para agarrar o alimento; é considerado mais higiênico. Alternativamente, pode-se usar um par de pauzinhos exclusivos para o prato em comum.

Dividir - Quando se desejar dividir a comida com outra pessoa, é recomendável movê-lo diretamente de um prato para o outro. Nunca se deve passar a comida de um par de hashis para outro, pois isto lembra o ato de passar os ossos do falecido durante um funeral japonês.

Comer o que é recebido - É costume comer arroz até o último grão. Pegar grão por grão é desaconselhado, e não é usual fazer pedidos especiais ou substituições nos restaurantes. É considerado ingratidão fazer esses pedidos, especialmente em circunstâncias em que a pessoa é uma convidada, como em um jantar de negócios. As boas maneiras requerem o respeito ao cardápio do anfitrião.

Bebida - Mesmo em situações informais, beber álcool sempre começa com um brinde (kanpai, 乾杯), quando todos estão prontos. Não é costume servir a bebida a si próprio; ao contrário, espera-se que as pessoas mantenham os copos dos outros sempre cheios. Quando alguém se move para encher o seu copo, a pessoa deve segurá-lo com as duas mãos e agradecer.